Fichamento de Lições de Arquitetura
Usar estruturas modulares na arquitetura é interessante porque elas trazem variedade e flexibilidade. Diferente da moradia de massa, que geralmente cria ambientes iguais e sem vida, esse tipo de solução permite que as pessoas se sintam parte do lugar onde moram. Quando tudo é padronizado demais, acaba faltando identidade, e os moradores perdem a chance de participar ativamente da construção do espaço. No fim, todo mundo é tratado do mesmo jeito, o que gera ambientes frios e distantes, sem sentimento de pertencimento. A grelha, por exemplo, é uma forma de organizar o espaço que não engessa o projeto. Para Hertzberger, usar uma malha modular ajuda a controlar a complexidade, mas sem perder liberdade criativa. Esse método cria um certo ritmo e coesão e ainda facilita que o ambiente cresça e se adapte com o tempo.
Sobre a forma de usar o espaço, a polivalência faz mais sentido do que uma funcionalidade rígida. Espaços polivalentes têm uma configuração mais aberta e neutra, que não define tudo de antemão. Isso permite que cada pessoa encontre o seu jeito de se apropriar e usar o lugar. Já na multifuncionalidade, os usos diferentes já estão programados desde o começo. Enquanto a multifuncionalidade organiza a variedade, a polivalência aposta na liberdade de interpretação.
Para Hertzberger, o formato do espaço deve surgir do contato com quem vai viver ali. Ele acredita que a arquitetura precisa incentivar encontros, acolher as pessoas e dialogar com os sentidos e com o corpo. Não é papel do arquiteto querer controlar tudo. É importante deixar brechas para o inesperado e confiar que o usuário vai encontrar formas próprias de usar aquele ambiente. Às vezes, basta oferecer algumas pistas espaciais que estimulem comportamentos positivos, sem impor nada.
Hertzberger também chama atenção para a diferença entre um espaço físico qualquer e um lugar cheio de significado. O que transforma um ambiente em algo especial é justamente essa conexão com o contexto e a sensação de pertencimento que ele pode trazer. Isso acontece por meio de elementos como limites, transições, referências visuais e simbólicas. Um projeto bem pensado precisa ter clareza na organização, mas também deixar espaço para a apropriação. O lugar deve acolher e orientar, mas não pode ser tão restrito a ponto de travar a criatividade das pessoas.
No fim das contas, ele defende que a arquitetura não seja só um exercício formal ou uma expressão de poder. O principal é pensar em como os moradores realmente vivem e se relacionam com os espaços. Mais do que criar composições bonitas, o objetivo é contribuir para uma sociedade mais participativa e justa. Para isso, é importante que a arquitetura dialogue com a memória coletiva, sem copiar o passado nem rejeitá-lo por completo. O equilíbrio está em reconhecer valores que atravessam o tempo — como pátios, corredores ou bancos — e adaptá-los às necessidades de hoje. Por fim, todas as áreas de um edifício precisam ter o mesmo potencial de serem apropriadas, para que cada pessoa possa encontrar seu próprio modo de se sentir em casa.
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